Santo de casa não faz milagre. Ninguém sabe por quê, mas não existe sentença mais verdadeira quando se trata de consumo artístico, seja na tevê, no cinema, nas mídias impressas ou mais especificamente: na música!
O milagre do santo caseiro tem sempre menor luz em relação ao santo de maior distância, que tem ainda menos luz em relação ao de maior distância sobre este, assim sucessivamente...
Abandonando a metáfora, essa lógica (a de que o artista local é inferior a outro de mesmo estilo, crença, cor de cabelo, estatura física, proveniente de outro estado/nação/continente) é absurda, mas real.
É uma questão de cultura de consumo.
Funciona basicamente assim: fomos educados a consumir e ter como importante tudo o que vinha do exterior. Nesse pacote entra a música, filmes, livros, quadrinhos e tudo mais que se possa consumir culturalmente. Veja bem, fomos comprados com obras de qualidade: Nirvana, Oasis, Lost, As Brumas de Avalon, Star Wars..., para os mais pops; Wacthmen, Black Sabbath, The Who, qualquer livro do Bukowski, para os mais roots. Há para cada estilo pelo menos um grande ícone ou um artista de grande destaque, reforçando essa “qualidade” latente...
Em seguida consumíamos, já com uma certa estranheza de paladar, nosso produto cultural interno de maior destaque: Skank, Los Hermanos, Raimundos, a música sertaneja em ascendência junto com o auge do samba.
E depois, por último, a música/produto regional: uma geração inteira rock gaúcho, de TNT a Acústicos e Valvulados, passando por Tequila baby, Nenhum de Nós, Wander, Frank Jorge e sua Graforréia (isso se falando aqui do RS, claro)...
Pronto, eis a hierarquia da cadeia de consumo de um jovem dos anos 90, definida e bem estabelecida.
A que ressaltar aqui que existem vários fatores adjacentes (qualidade técnica, gosto popular, exposição à mídia) e existem também as exceções à regra (A cena musical Brasiliense e toda uma gama de nossos próprios ícones nacionais: Cazuza, Raul Seixas, Renato Russo, entre outros). Mas no geral, a formula se aplica e se perpetua.
O jovem de hoje talvez se apoie nela com ainda mais veemência, por que o efeito negativo que ela tem é o esquecimento gradativo de suas castas inferiores, enfraquecendo-as.
Em outras palavras, existem cada vez menos ícones nacionais (e regionais) expressivos, uma vez que não houve o devido incentivo/apoio/interesse.
E a internet, embora seja uma ferramenta poderosa e aberta a todos, agiu como incentivador desta busca pelo santo mais distante, desconhecido e poderoso. Tornando, assim, a janela de oportunidade cada vez menor para o artista iniciante, influenciado também por essa cadeia, e inspirado por ela, na composição de seu próprio trabalho autoral, dando munição e gás a esse looping de consumismo.
Mas no geral, a hierarquia da cadeia de consumo artística é essa. E o absurdo real é supor que essa lógica se apoia em uma espécie de controle qualidade, com aquela máxima de que tudo o que é feito no pais não presta, e todo esse blá blá blá de sempre...
Aí pronto, está consolidada a cadeia de consumo artístico em seu império infinito.
Você deve estar se perguntando, a quem serve este tipo de informação? A resposta é simples: essa informação serve ao artista iniciante, buscando seu foco, seu público, sua voz, nessa terra infértil.
A solução seria instaurar aos poucos, timidamente, uma cultura de consumo reversa ,próxima quiçá, que diga ao artista iniciante:
“Acredite no teu som, ele é a tua voz, e não seria surpresa demais saber que ela encontra eco mundo afora!”
Ou
“Acredita na tua cena musical: Ela é o retrato da tua geração, de como se vestem, de como se portam, de como enxergam o mundo!”
Ou ainda:
“Acredita na tua pluralidade como artista: as leis do consumismo não servem a ninguém, somente à elas mesmas!”
Sim, soa bem utópico... Mas vai que cola?!
Hey Cult! Para continuar "em sintonia" nesse e noutros assuntos, sintonize-se conosco pela Página Oficial do Face e todas às quartas ao vivo das 20 às 22 na Rádio Fátima FM 87.9 ou http://www.radiofatimafm.net/
Tem muito artista local infinitamente mais interessante, mais criativo e até melhor tecnicamente do que ícones gringos com mais investimento e mídia...
ResponderExcluirAbre teu olho, Jaguara!! ��
Ex. Hibria e Angra são muito mais ricos musicalmente e melhor concebidos e executados que muita banda gringa de metal! Engenheiros (o trio!) foi a melhor banda de rock do país, independente da relevância histórica de outros...
Quantos e quantos atores nacionais são infinitamente melhores que gringos conhecidos por estar à frente de franquias de filmes populares... E por aí vai! Talkei?!